Conheça o médico cego que salva vidas em São Paulo
Viver com limitações é inerente à cegueira, mas não quer dizer que, com muita determinação, não se possa triunfar sobre a deficiência. Foi o que aconteceu com Ricardo Ayello Guerra, médico cego que há 26 anos ajuda a salvar vidas nos hospitais e clínicas de São Paulo. Contrariando todas as más expectativas e superando o bullying vivido na infância, Dr. Ricardo cursou medicina em universidade estadual, foi aprovado em concurso público e hoje é endocrinologista responsável pelo Ambulatório de Câncer de Tireoide do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.
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Reprodução Perfil Profissional Doctoralia
Com ajuda de um programa de computador, que descreve os prontuários na tela por meio de audiodescrição, e de um assistente, que lê os exames, Ricardo Guerra atende cerca de 20 pacientes por dia em três instituições de saúde. Além da unidade na Vila Clementino (SP) , o médico também dá expediente no Hospital do Servidor Público Municipal e em uma clínica particular em Atibaia – uma rotina corrida para alguém que, no começo, se recusava a usar bengala e andava aos tropeços e tombos pelos corredores dos hospitais.
Mesmo nunca estando sozinho durante os atendimentos, o endocrinologista ainda enfrenta desconfiança de alguns pacientes, que se recusam a ser examinados por um médico cego. Entretanto, é perfeitamente capaz de realizar diagnósticos clínicos através de palpação, percussão e ausculta. “É desagradável ser julgado não por uma questão técnica, mas por uma limitação que existe e que gera uma certa insegurança. Na concorrência, o cego já sai um passo atrás. Então tem que compensar com muita qualificação técnica”, contou em uma entrevista ao UOL.
Saiba mais sobre a retinose pigmentar
Ricardo Ayello Guerra sofre de retinose pigmentar, uma doença genética degenerativa da retina, que causa perda de visão progressiva, levando à cegueira. A retina é a parte do olho responsável por receber a imagem e transmiti-la ao cérebro através do nervo ótico, e, quando essa estrutura sofre atrofia, as imagens que vemos deixam de ser formadas. Ricardo nasceu com essa condição e, quando criança, já tinha a visão fraca – a capacidade de enxergar foi diminuindo ao longo da vida, até ficar completamente cego aos 35 anos.
Apesar das dificuldades, o médico não se vitimiza e vê na profissão a oportunidade de contribuir para a sociedade de forma ativa. “A gente tem que dar exemplo. Não pode, porque passou uma dificuldade grande na vida, sentar, chorar e arrumar uma aposentadoria por invalidez. Acho que o exemplo melhor é tentar continuar. Dentro do que for possível”. Ricardo se casou duas vezes, tem filhos, uma namorada e uma carreira de sucesso! Sua cegueira nunca o impediu de levar uma vida normal, que, certamente, não tem nada comum.
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